por Lilian Martins Larroca | Universo Educação
Ao observarmos a História da humanidade, percebemos que as divisões iniciais (Idade Antiga, Idade Média) abrangem séculos, ou longos períodos de tempo. No entanto, as últimas idades definidas pelos historiadores (Idade Moderna e Idade Contemporânea) abrangem períodos de tempo bem mais curtos, somando poucos séculos. Por que isso acontece e como isso se relaciona com o tema proposto para este artigo – a Educação 3.0?
Embora o tema pareça não ter uma relação direta, é fundamental a compreensão de que, nos períodos iniciais da História, as transformações sociais ocorriam de forma muito mais lenta. As atividades econômicas permaneceram as mesmas, sem grandes alterações, durante milênios. As comunidades, em sua maioria, baseavam sua sobrevivência nas atividades agropecuárias e, em menor escala, no comércio. Poucas foram as civilizações antigas que, pela prática do comércio, atuaram de forma “global”. Com instrumentos e técnicas simples, a vida era local e as habilidades para a subsistência e atuação social eram mais limitadas. Por milhares de anos, a maior parte da população era educada por suas próprias famílias para continuar executando as mesmas tarefas que seus antepassados executavam há gerações.
No decorrer do tempo, porém, parte da educação das crianças passou a ser delegada à escola. Esta era, no entanto, uma escola simples, que preparava os membros daquela comunidade para continuarem executando as mesmas tarefas de seus ancestrais – a agropecuária, a tecelagem, o artesanato, a culinária… A Educação 1.0 , que é o nome atualmente dado à maneira como as pessoas eram educadas nessa época, funcionou dessa maneira durante séculos e, ao longo do período correspondente, ela atendeu plenamente às expectativas daquela sociedade.
Depois de milênios, no final do século XVII, o mundo passou por sua primeira grande transformação – a Revolução Industrial. Pela primeira vez na História, uma quantidade considerável de pessoas deixou o ambiente rural para viver nas cidades e trabalhar nas fábricas. O domínio das ferramentas simples, o conhecimento do meio agrícola transmitido por suas famílias, as atitudes e comportamentos adequados ao trabalho no campo já não eram mais as habilidades necessárias para atuar na produção em série e, para atender a essa nova demanda. A então “nova” escola 2.0 preparou as pessoas para trabalhar nas fábricas. Essa mudança demorou a chegar às escolas, mas finalmente aconteceu, e vemos na Educação 2.0 as mesmas características observadas na produção industrial – tarefas repetitivas e mecânicas, trabalho individual mesmo com alunos dispostos em classes – reproduzidas na escola. O conhecimento transmitido tinha, mais uma vez, a função de adequar o educando à sociedade e ao mercado de trabalho que ele enfrentaria e, novamente, durante praticamente um século, isso foi suficiente.
Porém, atualmente, não podemos dizer simplesmente que a sociedade mudou mais uma vez. Agora, a mudança não ocorre em um determinado período que estabelece um estado de funcionamento duradouro. Hoje, a situação é justamente a mudança permanente. E o que essa mudança trouxe? Bem, em primeiro lugar, o ambiente de trabalho predominante não é mais a fazenda ou mesmo as fábricas. Mesmo existindo, esses dois ambientes passaram por profundas mudanças e estão inseridos em um mercado completamente diferente. Existem novos tipos de escritórios, serviços e atividades econômicas. O regime de governo predominante ou desejado na maior parte dos países é a ainda vacilante democracia. Temos, enfim, com suas qualidades e defeitos, uma nova sociedade – a sociedade 3.0.
Esse novo panorama de transformações constantes traz à tona, mais uma vez, a discussão sobre o papel da educação. Se nos períodos históricos anteriores as transformações sociais provocaram mudanças na escola, não estaria na hora de essa mudança ocorrer mais uma vez para atender às novas necessidades geradas pela sociedade 3.0? E que necessidades são essas?
Na sociedade 3.0, espera-se que as pessoas sejam capazes de solucionar problemas inéditos, e que façam isso de forma colaborativa, trabalhando em equipes. Espera-se também que o profissional seja capaz de utilizar a informação digital que chega a ele em tempo real através de dispositivos de comunicação e aplicar esse conhecimento à solução dos problemas. Espera-se ainda que saibam trabalhar junto a pessoas de outras faixas etárias, de outras gerações, com estilos e formações culturais diversificadas, bem como a iniciativa para distribuir tarefas entre as equipes, de modo que cada um execute uma atividade diferente, mas com a finalidade de atingir um objetivo comum.
É com essa proposta – a de desenvolver nos estudantes as habilidades que eles necessitam para desempenhar não só suas atividades acadêmicas, mas também obter sucesso em suas carreiras e participar ativamente da sociedade democrática – que uma corrente de pensadores tem debatido a Educação 3.0.
Ao contrário do que muitos pensam, a escola 3.0 não é aquela que troca a lousa de giz pela lousa eletrônica ou o caderno pelo tablet para simplesmente continuar transmitindo o conhecimento. Ela é, antes de tudo, uma nova concepção do que ensinar (mudança de conteúdos), como ensinar (mudança de metodologia), com o que ensinar (recursos didáticos variados, principalmente tecnológicos) e o que desenvolver (novas habilidades) para entregar como resultado, ao final do processo educativo, uma pessoa apta a trabalhar nesse novo panorama econômico e atuar nesse novo contexto social e político.
Esse é o gigantesco desafio não apenas para o Brasil, mas, surpreendentemente, para a maioria das escolas ao redor do mundo.